- Bella, meu amor? – chamou uma voz melodiosa e doce, no entanto conspurcada pela dor e preocupação.
- Mamã? Ela vai ficar bem, não vai pai? – desta vez, uma voz também doce e mais feminina, mas chorosa.
- Queridinha? Acho que ela está a abrir os olhos, Carlisle. – replicou uma outra voz.
Carlisle? Ah, agora percebia porque é que as vozes eram todas tão doces. Os Cullen. Para quem estariam a falar? Seria possível que fosse para mim? De qualquer maneira, Edward estava preocupado. Talvez devesse abrir os olhos.
As minhas pálpebras recolheram-se, mostrando uns olhos dourados e brilhantes. A luz do sol ofuscou os meus sentidos tremelicantes e fracos.
Antes de poder sequer respirar e observar o meio à minha volta, uns lábios calorosos e aliviados apoderaram-se de mim.
Edward estava mesmo preocupado comigo. O que teria acontecido? Lembrava-me de Nessie ter contado a Jake algo sobre Theresa, de ela poder saber que o meu melhor amigo era um lobisomem. E depois, tudo ficara escuro.
Ele continuava a beijar-me sofregamente.
- Hum, Edward? Não estamos sozinhos. – relembrei-o, antes que o meu corpo não mo permitisse.
Largou-me sem vontade, mas deixou a sua mão ficar pousada no meu regaço, enquanto com a outra me acariciava o queixo.
Todos lá estavam, uns confusos e outros abalados. Esme aproximava-se de mim, a medo. Carlisle parecia estudar-me com atenção, pedindo a Jasper para apontar algo num bloco de notas. Alice e Renesmee estavam perto de mim, a olhar-me com quatro olhos grandes e muito abertos, aflitas. Rosalie estava a um canto, perto de Emmett, os dois de olhos no chão, sem estabelecerem qualquer contacto. Só passado uns minutos percebi o motivo de tanta estranheza.
- Carlisle, é suposto uma vampira como eu desmaiar? – perguntei, num fio de voz. Sempre tivera muito medo de ser rejeitada como humana, mas pensei que esse medo não teria fundamento quando me tornasse vampira, afinal a minha espécie nunca muda. Eu também não mudaria, nem sequer teria comportamentos estranhos, certo?
Ele não respondeu logo, decerto via os meus lábios formaram um perfeito O de espanto.
- Não, não é suposto isso acontecer, minha querida Bella. – respondeu ele, com um sorriso benéfico. – Mas vou descobrir porque aconteceu.
Edward virou bruscamente a cabeça para Jasper, com a respiração ofegante.
- O que é? – perguntei.
- O Jasper explica. – disse Edward, abraçando-me com força. Ainda estava mais nervoso do que eu, podia adivinhá-lo.
- Jazz?... – chamei.
- Quando eu estava inserido naquelas lutas, no México e nos países do Sul, muitos vampiros desmaiavam. – principiou. – Nunca tinha percebido porquê, até ao dia em que me aconteceu a mim. – a sua voz contida doava um tom misterioso a toda a história, fazendo com que todos os presentes no quarto de Renesmee sustessem a respiração, com o suspense.
- Já éramos poucos, os Volturi já tinham intercedido na desordem e matança, mas Maria, que já estava muito fraca, tinha de vingar-se de um vampiro sádico que lhe ganhara na nossa última batalha, matando todos os vampiros recém-nascidos criados e treinados por nós. – continuou. – Eu pedira-lhe para respeitar as ordens de Aro, mas não me deu ouvidos. Tinha medo, até porque planeava fugir, mas sentia-me obrigado a ajudar Maria naquela última investida. Não me perdoaria se algo lhe acontecesse.
Alice rosnou, encostada à parede, fazendo com que Jasper perdesse o seu ar sério, e sorrisse melancolicamente, enquanto se chegava a ela, beijando-a na testa.
- Éramos mais ou menos seis vampiros, a contar com Maria, contra um exército de mais de trinta. Estavam fortalecidos, porque tinham acabado de derrubar uma cidade inteira, matando toda a gente que encontraram. – engoli em seco. – Por outro lado, nós estávamos muito fracos, depois de sucessivas batalhas, começava a tornar-se claro que não podíamos continuar. Mas Maria era vingativa, e preferiria morrer a tentar, do que acobardar-se e ficar escondida para toda a eternidade. Não tinha outra hipótese. Apoiei-a, e encontrámo-nos com o exército gigante num monte muito alto, algures no Chile.
Renesmee tapou os olhos e abraçou-se a Jake. Nunca gostara de ouvir histórias de vampiros, porque acabavam sempre em terror, excepto as dos vegetarianos, que eram sempre felizes. A sua história preferida era a minha e de Edward. Deliciava-se a ouvir as descrições dos beijos e carícias que o meu marido me fazia, quando ainda era humana. Mas Edward nem fazia ideia que eu lhe contava isto.
- Bem, como seria de esperar, fomos logo apanhados, eles tinham preparado uma cilada de génio, a Maria e outros dois, que iam à frente, foram logo despedaçados. Nem queria acreditar no que os meus olhos viam, mas quando me apercebi de que era a realidade, as minhas pernas fraquejaram, as pálpebras teimavam em fechar-se, sentia os olhos pesados, e comecei a ficar sem forças. Acabei por cair, meio anestesiado por qualquer coisa que ainda agora não sei o que é. A última coisa que vi, foi uma fogueira. Queimaram-nos a todos, incluindo a mim. – parou de narrar, como que esperando a reacção do público.
- Jazz, então como é que estás vivo ainda? – perguntou Rosalie, a medo, esquecendo-se por momentos da sua tristeza e encostando-se mais a Emmett, que a acolheu silenciosamente, tentando mostrar-se indiferente.
- Não sei como estou vivo, só me lembro que acordei com uma pedrada enorme, parecia que tinha levado com um pau na cabeça. Quando abri os olhos, só vi à minha volta bocados de seres, e um fumo roxo a sair do sítio onde estava, com aquela porcaria toda. Assim que me levantei, percebi que nos tinham queimado, e se tinham ido embora, deixando-nos a assar. Só não percebo porque não morri. Mas deve ter sido por ter desmaiado...
- Hum, muito interessante, Jasper. Penso que já me tinhas contado isso, há mais de duas década. – declarou Carlisle. – Mas vou fazer umas pesquisas, e logo à noite já devo saber algo acerca desse fenómeno.
Retirou-se em silêncio, dando a mão a Esme. Depois, Alice e Jasper também saíram.
Jacob retirou-se com um grunhido, infeliz por deixar a namorada. Sentei-me na cama, determinada a assistir àquilo.
No rés-do-chão, ouvia as duas pequenas a resmungar que queriam o pai. Num segundo, o olhar culpado de Emmett encheu-se de ternura, e os seus olhos, como caramelos flamejantes, voaram para os lábios carnudos de Rosalie. Veloz como sempre, abraçou-a, e enterrou o seu corpo no dela, apaixonadamente.
- Desculpa, sou uma besta. – sussurrou.
- Não fales, Em. – pediu Rose. – Apenas, sente o momento. A nossa família cresceu. Quero ficar contigo para sempre. Amo-te.
E beijaram-se mais, muito mais, até que Emmett abriu um olho ameaçador, fazendo-nos sinal para que saíssemos.
Edward ainda lhe lançou um olhar desafiador, postando-se na cama de Nessie, sem intenções de sair, mas beijei-o suavemente na mão e abri-lhe dois botões da camisa.